A violência política não pode ser naturalizada
Do Rio de Janeiro dos anos 1950, salta um personagem real que sintetiza um pouco da atualidade brasileira: a violência política. Tenório Cavalcanti, um político reacionário e muito polêmico da Baixada Fluminese, empunhava uma metralhadora, usava uma capa preta e uma cartola, semelhante a um agente funerário dos filmes de bang bang americanos. Tenório era visto como defensor do povo para as classes composta por miseráveis. Por suas atitudes violentas e populistas, conquistou fama e fortuna. Mas na verdade era um assassino frio que transformou a política em um lugar de medo, ameaças e morte. Parece que o ano de 2020, este cenário voltou com força nas eleições municipais, principalmente na cidade do Rio de Janeiro. A mistura de político e bandido, expressada pelas narcomilícias já vitimou dois candidatos e três cabos eleitorais mortos. Um vereador baleado, todos crimes com motivações políticas no intervalo de um mês. É a escalada de violência política na região metropolitana do Rio de Janeiro. Vale lembrar que Bolsonaro e seus filhos têm declaradas relações com o crime organizado. Revoltas, levantes, golpes e guerras civis são algumas das faces da violência política. Ao contrário do que muitos pensam, o Brasil voltou a ser palco da violência política que nos acompanhou a longo do século vinte. A violência contra a vida de representantes de cargos eletivos, candidatos ou pré-candidatos tem aumentado significativamente nos últimos quatro anos. É o que aponta o levantamento realizado pelas organizações sociais de direitos humanos Terra de Direitos e Justiça Global.
Vale lembrar que o atual presidente da República é um incentivador das violências que não esconde sua adoração pela morte e utiliza a ameaça como expediente contra jornalistas, opositores, judiciário só para citar alguns. Vale lembrar que a violência é parte constitutiva do exercício do poder. O monopólio da violência pelo Estado é prerrogativa. Mas o uso da violência nas relações políticas tem sido efetivamente utilizada como recurso. O narcotráfico e as milícias utilizam a violência como estratégia necessária para controlar territórios. Bolsonaro parece ter aberto o caminho para que cada vez mais o crime se apresente como opção para o parlamento e para os cargos no executivo. Eles utilizam o mesmo modus oprandi da violência como instrumento. A política é um meio para estabelecer o diálogo como princípio ético. O discurso de violência emitido pelos veículos comerciais de comunicação nos últimos anos ganhou forma e legitimidade por meio de grupos criminosos que têm na violência seus princípios. É uma ancruzilhada que resgatou o Brasil dos coronéis e dos jagunços.
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