Nos caminhos do futebol de rua
Foram os anos 1980/90 que abrigaram os principais debates sobre o lazer e o esporte no Brasil, a partir do processo de redemocratização iniciado com a Nova República. De toda a mobilização, a grande conquista foi a inclusão na Constituição de 1988, conhecida como “Constituição cidadã”, do artigo 217, que assegurou o direito ao esporte e ao lazer a todos os cidadãos e cidadãs; sinal de que a mobilização da sociedade surtiu o primeiro efeito.
Já a cidade de São Paulo, apesar de seus vários problemas estruturais, construiu a partir dos anos 1970 uma rede de Clubes da Cidade (43), mais de 200 CDMs (clubes desportivos municipais) e mais de 300 campos em sistema de rodízio, ambos administrados pela comunidade local, o que garantiu uma reserva de áreas para a prática de esportes, principalmente o futebol.
Entretanto, neste período, até meados dos anos 1980, foi a rua que recebeu e abrigou as principais brincadeiras e onde ocorria a recreação não só de crianças, mas também dos adultos. Brincar, jogar futebol, correr e aprender sempre foram marcas da infância de muitas gerações paulistanas. Foi na rua com bolas improvisadas, dois pares de latas ou pedras e regras estabelecidas em comum acordo que o futebol ganhou o coração de milhões de brasileiros e possibilitou o surgimento de grandes craques, que muitas vezes tinham que driblar obstáculos extras, além dos adversários, como pedras, buracos e terrenos irregulares.
Mas o crescimento acelerado da indústria automobilística e a falta de um planejamento da ocupação da cidade deram início a transformação da rua em sinônimo de problemas. O que era o principal local para o ócio e a brincadeira transformou-se em perigo e celeiro da violência na virada do século 20. Carros, asfalto e coisas ruins passaram a coexistir lado a lado onde antes havia crianças desde a mais tenra infância aprendendo valores como respeito, cidadania, cultura, liberdade e a jogar futebol.
A diminuição de espaços para a prática, principalmente do futebol, fez surgir na cidade as primeiras experiências de escolas de futebol, o que acelerou-se em meados dos anos 1990, sendo na maioria privadas.
Uma das primeiras experiências de escola de futebol nasceu em São Paulo em 1974, Escola de Futebol da Aclimação, no Estádio Municipal Jack Marin. Inspirada em experiências européias, principalmente da Alemanha e Holanda, a escola nasceu com a vocação de desenvolver estudos, pesquisas e possibilitar aos jovens um local para o desenvolvimento de potencialidades e de convívio social por meio do esporte.
O que no início do século 20 era informal ganhou tons de formalidade pedagógica na virada para o século 21. Mas, ao mesmo tempo, numa proporção geométrica, a pobreza, o desemprego e a exclusão social cresceram significativamente nas últimas décadas, fazendo da periferia paulistana o principal abrigo de uma grande massa de pessoas (nota 4 – dados pobreza em sp). Nestas áreas, a violência, as drogas e a falta de perspectivas foram mais velozes do que a oferta de escolas e áreas de convivência coletiva para a comunidade local, principalmente para os jovens, que foram sendo proibidos de sonhar.
Uma grande marca na paisagem destas áreas são os campos. Constituem enormes terrenos de terra batida, quase sempre sem alambrados, uma barraquinha de bebidas e aperitivos e uma porção de gente querendo praticar futebol, com destaque para jovens e crianças. Estas áreas são conhecidas como CDMs, são administrados pelas comunidades locais, associações de moradores e basicamente por times amadores, ou times de várzea, como são chamados. Em muitos deles há favelas e invasões de sem-tetos, mas o campo é respeitado em seus limites e dimensões, pois todos sabem que campo de futebol é sagrado no Brasil.
As equipes amadoras da várzea foram e ainda são o celeiro dos jogadores profissionais. Daí saíram Basílio, Serginho Chulapa, Edu Bala (estes todos na Casa Verde, zona Noroeste da cidade). Ou Wilsinho, Badeco, Tião, Leivinha, Deodoro, Toni Gato, Coutinho, Viola, Paulo Sérgio, Zé Maria e uma infinidade de tantos outros. Por isso todos eles aprenderam sobre a importância do futebol no dia-a-dia dos jovens da periferia de São Paulo, pois foi de lá que a maioria deles saiu e aprendeu a cultura do futebol brasileiro.
Equipes amadoras tradicionais sobrevivem até os dias atuais resistindo aos problemas financeiros e à especulação imobiliária. No Cambuci, zona Sudeste da cidade, o República completou 84 anos em 2004. Pequenas doações e ajudas, que vão desde uma bola até o dinheiro para a lavagem dos uniformes usados durante os jogos, garantem algumas necessidades básicas destas verdadeiras reservas da grande paixão mundial. São organizações que carregam não só as tradições de mais de cem anos de futebol no Brasil, mas também a alternativa de lazer e recreação de muitas pessoas da cidade de São Paulo nos finais de semana. São os jogos que possibilitam quebrar a rotina diária das semanas prosaicas. Histórias e feitos podem ser contados com orgulho pelos seus narradores. Heróis anônimos, atletas de fim de semana que entre um churrasco e uns tragos podem relatar gols e vitórias, que se não são estampadas nos jornais esportivos espalham-se rapidamente entre a comunidade local, produzindo ídolos de um universo sem o glamour das mesas redondas ou das coletivas de imprensa pós-rodada esportiva.
E é aí que reside um grande potencial de mobilização comunitária. Uma incrível ferramenta e que, se bem aproveitado, cumpre papel de transformar a realidade local e oferecer alternativas para a educação e proteção dos jovens e crianças destas áreas, estabelecendo uma rede de solidariedade e proteção.
Já a cidade de São Paulo, apesar de seus vários problemas estruturais, construiu a partir dos anos 1970 uma rede de Clubes da Cidade (43), mais de 200 CDMs (clubes desportivos municipais) e mais de 300 campos em sistema de rodízio, ambos administrados pela comunidade local, o que garantiu uma reserva de áreas para a prática de esportes, principalmente o futebol.
Entretanto, neste período, até meados dos anos 1980, foi a rua que recebeu e abrigou as principais brincadeiras e onde ocorria a recreação não só de crianças, mas também dos adultos. Brincar, jogar futebol, correr e aprender sempre foram marcas da infância de muitas gerações paulistanas. Foi na rua com bolas improvisadas, dois pares de latas ou pedras e regras estabelecidas em comum acordo que o futebol ganhou o coração de milhões de brasileiros e possibilitou o surgimento de grandes craques, que muitas vezes tinham que driblar obstáculos extras, além dos adversários, como pedras, buracos e terrenos irregulares.
Mas o crescimento acelerado da indústria automobilística e a falta de um planejamento da ocupação da cidade deram início a transformação da rua em sinônimo de problemas. O que era o principal local para o ócio e a brincadeira transformou-se em perigo e celeiro da violência na virada do século 20. Carros, asfalto e coisas ruins passaram a coexistir lado a lado onde antes havia crianças desde a mais tenra infância aprendendo valores como respeito, cidadania, cultura, liberdade e a jogar futebol.
A diminuição de espaços para a prática, principalmente do futebol, fez surgir na cidade as primeiras experiências de escolas de futebol, o que acelerou-se em meados dos anos 1990, sendo na maioria privadas.
Uma das primeiras experiências de escola de futebol nasceu em São Paulo em 1974, Escola de Futebol da Aclimação, no Estádio Municipal Jack Marin. Inspirada em experiências européias, principalmente da Alemanha e Holanda, a escola nasceu com a vocação de desenvolver estudos, pesquisas e possibilitar aos jovens um local para o desenvolvimento de potencialidades e de convívio social por meio do esporte.
O que no início do século 20 era informal ganhou tons de formalidade pedagógica na virada para o século 21. Mas, ao mesmo tempo, numa proporção geométrica, a pobreza, o desemprego e a exclusão social cresceram significativamente nas últimas décadas, fazendo da periferia paulistana o principal abrigo de uma grande massa de pessoas (nota 4 – dados pobreza em sp). Nestas áreas, a violência, as drogas e a falta de perspectivas foram mais velozes do que a oferta de escolas e áreas de convivência coletiva para a comunidade local, principalmente para os jovens, que foram sendo proibidos de sonhar.
Uma grande marca na paisagem destas áreas são os campos. Constituem enormes terrenos de terra batida, quase sempre sem alambrados, uma barraquinha de bebidas e aperitivos e uma porção de gente querendo praticar futebol, com destaque para jovens e crianças. Estas áreas são conhecidas como CDMs, são administrados pelas comunidades locais, associações de moradores e basicamente por times amadores, ou times de várzea, como são chamados. Em muitos deles há favelas e invasões de sem-tetos, mas o campo é respeitado em seus limites e dimensões, pois todos sabem que campo de futebol é sagrado no Brasil.
As equipes amadoras da várzea foram e ainda são o celeiro dos jogadores profissionais. Daí saíram Basílio, Serginho Chulapa, Edu Bala (estes todos na Casa Verde, zona Noroeste da cidade). Ou Wilsinho, Badeco, Tião, Leivinha, Deodoro, Toni Gato, Coutinho, Viola, Paulo Sérgio, Zé Maria e uma infinidade de tantos outros. Por isso todos eles aprenderam sobre a importância do futebol no dia-a-dia dos jovens da periferia de São Paulo, pois foi de lá que a maioria deles saiu e aprendeu a cultura do futebol brasileiro.
Equipes amadoras tradicionais sobrevivem até os dias atuais resistindo aos problemas financeiros e à especulação imobiliária. No Cambuci, zona Sudeste da cidade, o República completou 84 anos em 2004. Pequenas doações e ajudas, que vão desde uma bola até o dinheiro para a lavagem dos uniformes usados durante os jogos, garantem algumas necessidades básicas destas verdadeiras reservas da grande paixão mundial. São organizações que carregam não só as tradições de mais de cem anos de futebol no Brasil, mas também a alternativa de lazer e recreação de muitas pessoas da cidade de São Paulo nos finais de semana. São os jogos que possibilitam quebrar a rotina diária das semanas prosaicas. Histórias e feitos podem ser contados com orgulho pelos seus narradores. Heróis anônimos, atletas de fim de semana que entre um churrasco e uns tragos podem relatar gols e vitórias, que se não são estampadas nos jornais esportivos espalham-se rapidamente entre a comunidade local, produzindo ídolos de um universo sem o glamour das mesas redondas ou das coletivas de imprensa pós-rodada esportiva.
E é aí que reside um grande potencial de mobilização comunitária. Uma incrível ferramenta e que, se bem aproveitado, cumpre papel de transformar a realidade local e oferecer alternativas para a educação e proteção dos jovens e crianças destas áreas, estabelecendo uma rede de solidariedade e proteção.
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