As conquistas
Em pouco mais de cem anos, muitas conquistas alçaram o esporte da elite e uma potente máquina de ganhar títulos. Os mais importantes títulos são os cinco campeonatos mundiais conquistados na Suécia (1958), no Chile (1962), no México (1970), nos Estados Unidos (1994) e na Coréia do Sul e Japão (2002), além dos vices conquistados no Brasil (1950) e na França (1998).
Atualmente o Brasil conta com cerca de onze mil jogadores federados, 800 clubes de futebol e mais de dois mil atletas atuando em todo o mundo. São mais de treze mil times amadores participando de jogos organizados, trinta milhões de praticantes e mais de 300 estádios, com cerca de cinco milhões de lugares.
Portanto, não é por acaso que o Brasil é conhecido como o país do futebol. Jogar futebol no Brasil faz parte do cotidiano cultural e da paisagem brasileira. Joga-se futebol na praia, no asfalto, no cimento, na terra, em campos de várzea da periferia das grandes cidades, nas escolas, nas penitenciárias, nos sanatórios, nas igrejas, onde for possível fincar algo que se transforme em gol, lá será praticado o futebol, independente da idade, do sexo ou da condição social de quem queira praticá-lo.
Como afirma Roberto da Mata, “o futebol moderno nasceu na Inglaterra industrial. Sua concepção tem origem na bandeira pela igualdade e fraternidade. Suas regras, a quantidade de jogadores e o grau de dificuldades por ser jogado com as partes inferiores do corpo, nasceram do ideal iluminista, que torna todos que o praticam iguais no campo de jogo”. (2)
Do Futebol Comunitário ao Mais Esporte
O ano de 2001 foi especial para a Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação da Prefeitura de São Paulo. Experiências marcantes de planejamento possibilitaram uma caminhada suave e certeira. Uma grande dose de entusiasmo disparou uma tempestade de idéias que tomou conta da equipe central, encarregada de juntar as vontades individuais aos interesses e necessidades da cidade.
A liderança, a inspiração e o vigor físico de Nádia Campeão somaram-se à juventude de uma porção de jovens adultos de trinta e poucos anos, que tiveram a felicidade de ver todas as mudanças que o Brasil sofreu nos últimos vinte anos. E na maioria das vezes como indivíduos ativos por uma sociedade solidária, mais igualitária, democrática e com desenvolvimento sustentável.
Aos poucos as reuniões foram se transformando em laboratórios e muitas idéias foram encontrando vazão, faltava a fusão.
Foi nas salas do Anhembi, durante um esforço concentrado de umas vinte e tantas pessoas, que finalmente as idéias começaram a ganhar conteúdos. Os projetos começaram a nascer e a receber nomes, gerentes, dotações orçamentárias, além de cores, formas.
Um destes projetos seria o mais demorado, afinal de contas não seria fácil pensar no futebol sob outra dimensão. E esta espera foi porque havia muitos setores envolvidos na experiência anterior, chamada de Futebol Comunitário(3). Abrir mão de um programa que tinha como principal componente de seu conteúdo o futebol seria, no mínimo, um erro, pois os elementos positivos estavam todos ali, era preciso, então, reconstruir sem incorrer nos erros diagnosticados. Mas fazê-lo sem levar em consideração todo o potencial de mobilização que o esporte mais popular do mundo possui não teria muito significado na transformação das vidas das pessoas e comunidades envolvidas.
Em novembro de 2001 encerrou-se o ciclo da experiência do programa de Futebol Comunitário na cidade de São Paulo. Seu término deixou um legado de recursos humanos, além da expectativa de um salto de qualidade a partir daquela experiência que serviu, antes de tudo, para perpetuar uma relação de política de poder estabelecida por meio dos vínculos do futebol e a sociedade brasileira. A forma utilitarista de apropriação da imagem de ex-jogadores consagrados e a má administração dos frutos oriundos deles, somados à paixão do povo pelo futebol, ao invés de servirem como fator positivo fizeram do Programa de Futebol Comunitário uma extensão das relações negativas tão questionadas a partir da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) CBF/Nike, instaurada na Câmara dos Deputados.
A Comissão denunciou o tráfico internacional de jogadores menores de idade, a falsificação de documentos de identidade. E flagrou o negócio dos passaportes falsos. Esses fatos repercutiram no Brasil e internacionalmente e resultaram em manchetes na imprensa mundial. As denúncias da CPI obrigaram países europeus a tomar providências para coibir a falsificação de passaportes. A CPI enviou uma delegação a Zurique, na Suíça, para apresentar seus relatórios à FIFA. E em resposta, a FIFA adotou novas regras, como a proibição de transferências de jogadores menores de idade.
Resgatar o sentido sócio-cultural do futebol era necessário antes de tudo, pois seria o único caminho para a retomada da credibilidade e do engajamento de todos.
O ano seguinte, 2002, seria decisivo. Um novo programa já havia sido batizado de Mais Esporte. Sua missão: tornar-se de fato e um veículo de transporte e de chegada de políticas públicas para a periferia da cidade de São Paulo. NOTA DE RODAPÉ 3
A capacidade de despertar sentimentos em multidões é um fenômeno fantástico e que só o futebol possui. Seja na Europa, na Ásia, na África ou na América Latina ele tem um poder que transcende a razão e a lógica. Os grandes jogadores de futebol exercem grande fascínio sobre crianças e adolescentes e suas atitudes e estilos de vida acabam interferindo de forma positiva ou negativa de acordo com os interesses culturais e educacionais de cada sociedade, e no Brasil isto não é diferente.
Naquela primeira fase a meta era encontrar soluções criativas para o lazer e a recreação na cidade de São Paulo, com baixo-custo, larga escala e boa qualidade. Em uma cidade marcada pela desarticulação entre os espaços públicos urbanos e todos os cidadãos que nela vivem por opção ou por nascimento.
Partindo do Marco Zero da cidade, localizado na Praça da Sé, em qualquer direção o destino será a periferia. E é na zona Leste, Sul, Norte ou Oeste que São Paulo mostra uma face que necessita de carinho, atenção e criatividade.
Nestas áreas os espaços públicos para o lazer e a recreação são escassos e limitados. São limitados pelo crescimento desordenado, pela especulação imobiliária e pela ausência de uma rede de solidariedade e de serviços articulada entre a população, o poder público e a iniciativa privada, além da diminuição de oportunidades e a não aplicação de políticas públicas eficientes e sustentáveis. Outro fator é a existência limitada de áreas para a prática de esportes.
Este distanciamento entre o poder público e a população, gerou um abandono da própria cidade, de parte da sua história e a abdicação de sua beleza e da sua utilidade enquanto espaço coletivo capaz de absorver e oferecer a possibilidade de algo prazeroso e livre para todos.
Reconquistar, repensar, restituir, reconstruir. O refazer diferente e com outro olhar, resgatando o prazer e a vontade de ter e viver em uma cidade melhor, mais bonita, mais agradável, mais solidária e aconchegante. Enxergar a cultura física e o jogo, principalmente o futebol, em outra dimensão dentro do seu aspecto social e transformador. Foram os sentimentos que nortearam o novo projeto.
Respeitar e permitir o direito ao ócio, à saúde social, afetiva e física das pessoas, não somente como uma opção individual, mas como um direito universal, garantido pelo artigo 217 da Constituição Federal Brasileira e pela Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas.
Atualmente o Brasil conta com cerca de onze mil jogadores federados, 800 clubes de futebol e mais de dois mil atletas atuando em todo o mundo. São mais de treze mil times amadores participando de jogos organizados, trinta milhões de praticantes e mais de 300 estádios, com cerca de cinco milhões de lugares.
Portanto, não é por acaso que o Brasil é conhecido como o país do futebol. Jogar futebol no Brasil faz parte do cotidiano cultural e da paisagem brasileira. Joga-se futebol na praia, no asfalto, no cimento, na terra, em campos de várzea da periferia das grandes cidades, nas escolas, nas penitenciárias, nos sanatórios, nas igrejas, onde for possível fincar algo que se transforme em gol, lá será praticado o futebol, independente da idade, do sexo ou da condição social de quem queira praticá-lo.
Como afirma Roberto da Mata, “o futebol moderno nasceu na Inglaterra industrial. Sua concepção tem origem na bandeira pela igualdade e fraternidade. Suas regras, a quantidade de jogadores e o grau de dificuldades por ser jogado com as partes inferiores do corpo, nasceram do ideal iluminista, que torna todos que o praticam iguais no campo de jogo”. (2)
Do Futebol Comunitário ao Mais Esporte
O ano de 2001 foi especial para a Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação da Prefeitura de São Paulo. Experiências marcantes de planejamento possibilitaram uma caminhada suave e certeira. Uma grande dose de entusiasmo disparou uma tempestade de idéias que tomou conta da equipe central, encarregada de juntar as vontades individuais aos interesses e necessidades da cidade.
A liderança, a inspiração e o vigor físico de Nádia Campeão somaram-se à juventude de uma porção de jovens adultos de trinta e poucos anos, que tiveram a felicidade de ver todas as mudanças que o Brasil sofreu nos últimos vinte anos. E na maioria das vezes como indivíduos ativos por uma sociedade solidária, mais igualitária, democrática e com desenvolvimento sustentável.
Aos poucos as reuniões foram se transformando em laboratórios e muitas idéias foram encontrando vazão, faltava a fusão.
Foi nas salas do Anhembi, durante um esforço concentrado de umas vinte e tantas pessoas, que finalmente as idéias começaram a ganhar conteúdos. Os projetos começaram a nascer e a receber nomes, gerentes, dotações orçamentárias, além de cores, formas.
Um destes projetos seria o mais demorado, afinal de contas não seria fácil pensar no futebol sob outra dimensão. E esta espera foi porque havia muitos setores envolvidos na experiência anterior, chamada de Futebol Comunitário(3). Abrir mão de um programa que tinha como principal componente de seu conteúdo o futebol seria, no mínimo, um erro, pois os elementos positivos estavam todos ali, era preciso, então, reconstruir sem incorrer nos erros diagnosticados. Mas fazê-lo sem levar em consideração todo o potencial de mobilização que o esporte mais popular do mundo possui não teria muito significado na transformação das vidas das pessoas e comunidades envolvidas.
Em novembro de 2001 encerrou-se o ciclo da experiência do programa de Futebol Comunitário na cidade de São Paulo. Seu término deixou um legado de recursos humanos, além da expectativa de um salto de qualidade a partir daquela experiência que serviu, antes de tudo, para perpetuar uma relação de política de poder estabelecida por meio dos vínculos do futebol e a sociedade brasileira. A forma utilitarista de apropriação da imagem de ex-jogadores consagrados e a má administração dos frutos oriundos deles, somados à paixão do povo pelo futebol, ao invés de servirem como fator positivo fizeram do Programa de Futebol Comunitário uma extensão das relações negativas tão questionadas a partir da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) CBF/Nike, instaurada na Câmara dos Deputados.
A Comissão denunciou o tráfico internacional de jogadores menores de idade, a falsificação de documentos de identidade. E flagrou o negócio dos passaportes falsos. Esses fatos repercutiram no Brasil e internacionalmente e resultaram em manchetes na imprensa mundial. As denúncias da CPI obrigaram países europeus a tomar providências para coibir a falsificação de passaportes. A CPI enviou uma delegação a Zurique, na Suíça, para apresentar seus relatórios à FIFA. E em resposta, a FIFA adotou novas regras, como a proibição de transferências de jogadores menores de idade.
Resgatar o sentido sócio-cultural do futebol era necessário antes de tudo, pois seria o único caminho para a retomada da credibilidade e do engajamento de todos.
O ano seguinte, 2002, seria decisivo. Um novo programa já havia sido batizado de Mais Esporte. Sua missão: tornar-se de fato e um veículo de transporte e de chegada de políticas públicas para a periferia da cidade de São Paulo. NOTA DE RODAPÉ 3
A capacidade de despertar sentimentos em multidões é um fenômeno fantástico e que só o futebol possui. Seja na Europa, na Ásia, na África ou na América Latina ele tem um poder que transcende a razão e a lógica. Os grandes jogadores de futebol exercem grande fascínio sobre crianças e adolescentes e suas atitudes e estilos de vida acabam interferindo de forma positiva ou negativa de acordo com os interesses culturais e educacionais de cada sociedade, e no Brasil isto não é diferente.
Naquela primeira fase a meta era encontrar soluções criativas para o lazer e a recreação na cidade de São Paulo, com baixo-custo, larga escala e boa qualidade. Em uma cidade marcada pela desarticulação entre os espaços públicos urbanos e todos os cidadãos que nela vivem por opção ou por nascimento.
Partindo do Marco Zero da cidade, localizado na Praça da Sé, em qualquer direção o destino será a periferia. E é na zona Leste, Sul, Norte ou Oeste que São Paulo mostra uma face que necessita de carinho, atenção e criatividade.
Nestas áreas os espaços públicos para o lazer e a recreação são escassos e limitados. São limitados pelo crescimento desordenado, pela especulação imobiliária e pela ausência de uma rede de solidariedade e de serviços articulada entre a população, o poder público e a iniciativa privada, além da diminuição de oportunidades e a não aplicação de políticas públicas eficientes e sustentáveis. Outro fator é a existência limitada de áreas para a prática de esportes.
Este distanciamento entre o poder público e a população, gerou um abandono da própria cidade, de parte da sua história e a abdicação de sua beleza e da sua utilidade enquanto espaço coletivo capaz de absorver e oferecer a possibilidade de algo prazeroso e livre para todos.
Reconquistar, repensar, restituir, reconstruir. O refazer diferente e com outro olhar, resgatando o prazer e a vontade de ter e viver em uma cidade melhor, mais bonita, mais agradável, mais solidária e aconchegante. Enxergar a cultura física e o jogo, principalmente o futebol, em outra dimensão dentro do seu aspecto social e transformador. Foram os sentimentos que nortearam o novo projeto.
Respeitar e permitir o direito ao ócio, à saúde social, afetiva e física das pessoas, não somente como uma opção individual, mas como um direito universal, garantido pelo artigo 217 da Constituição Federal Brasileira e pela Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas.
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