Solano Trindade: um homem que jogou luzes sobre a arte do povo negro

O ano era 2004. A cidade, Witzenhausen, no centro da Alemanha. Uma pequena e tranquila cidade da região de Kassel, cuja capital é a cidade de Kassel. Era início da primavera, mês de abril. Ainda fazia bastante frio, apesar de os alemães estarem adorando o fim do inverno. Estávamos alojados em um antigo mosteiro, um Kloster. Era madrugada, já. E de repente começamos a ouvir barulho de pedras sendo atiradas em alguma janela dos dormitórios. Não tardou e ouvi a voz de Célio Turino conversando com alguém que estava do lado de fora. Os dois então começaram a travar um diálogo. Foi quando percebi, pelos passos apressados e duros sobre o piso de madeira antigo do andar, que alguém estava indo ao encontro do sujeito que atirava pedras na janela do lado de fora. Não me fiz de rogado e fui investigar o que se passava. Cheguei a tempo de ver o Célio abrindo de um supetão a porta. Foi então que um homem negro, alto, com cara de artista e uma voz que lembrava um trovão abriu foi logo abrindo um enorme e branco sorriso de agradecimento ao poder entrar e escapar do frio. E ele já foi logo explicando: eu saí de Berlin e só consegui chegar agora de madrugada. Eu sou o Vitor, Vitor da Trindade. O sobrenome logo me chamou a atenção. E não tardei a perguntar: o Trindade é do Solano Trindade. E ele com um olhar de altivez me respondeu: Sim, é o meu avô! Logo falamos de Solano Trindade. O pfrimeiro contato que tive com pessoas ligadas ao grande poeta, folclorista, pintor, ator, teatrólogo, cineasta e militante do Movimento Negro e do Partido Comunista. O pernambucano de Recife, o brasileiro do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Embu das Artes. Aliás, arriscaria dizer que se não fosse Solano Trindade, Embu das Artes não levaria o sobrenome de Artes. Solano, filho do sapateiro Manuel Abílio Trindade e de dona Emerenciana Maria de Jesus Trindade. Solano foi o criador da poesia “assumidamente negra” no Brasil. Deixou um legado para a arte e a cultura brasileira, entre as quais o poema maravilhoso Tem gente com fome


TEM GENTE COM FOME
Trem sujo da Leopoldina correndo correndo parece dizer tem gente com fome tem gente com fome tem gente com fome Piiiiii Estação de Caxias de novo a dizer de novo a correr tem gente com fome tem gente com fome tem gente com fome Vigário Geral Lucas Cordovil Brás de Pina Penha Circular Estação da Penha Olaria Ramos Bom Sucesso Carlos Chagas Triagem, Mauá trem sujo da Leopoldina correndo correndo parece dizer tem gente com fome tem gente com fome tem gente com fome Tantas caras tristes querendo chegar em algum destino em algum lugar Trem sujo da Leopoldina correndo correndo parece dizer tem gente com fome tem gente com fome tem gente com fome Só nas estações quando vai parando lentamente começa a dizer se tem gente com fome dá de comer se tem gente com fome dá de comer se tem gente com fome dá de comer Mas o freio de ar todo autoritário manda o trem calar Psiuuuuuuuuuuu

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